Confiança Criativa
- Pedro Graça

- 11 de ago.
- 3 min de leitura

Sentimo-nos muito mais confiantes quando aquilo que nos rodeia nos é familiar. O que nos é conhecido dá-nos segurança. Mas a vida raramente nos deixa passar muito tempo nesse lugar confortável e, com os anos, somos forçados a aprender a lidar com os imprevistos e a ultrapassar os obstáculos que a vida se encarrega de nos trazer. É por isso que acredito que a criatividade é uma competência extraordinária e essencial, para resolver dificuldades, que frequentemente nos exigem adopção de formas de pensar, “fora da caixa” e disruptivas. É sobretudo uma forma de pensar, de ousar sair do óbvio e de desafiar as regras, dando consistência às ideias e guiando o processo.
O conceito de confiança criativa foi trazido por David e Tom Kelley, os “pais” do Design Thinking e a sua essência é bastante simples: acreditar que temos capacidade para criar e transformar o mundo à nossa volta, deixando cair frases como “eu não sou capaz,” ainda antes de tentar e assumir que a criatividade está dentro de todos nós.
Temos de acordar e exercitar, porque é a confiança no nosso potencial criativo que alimenta a inovação. E a inovação é o motor que faz a humanidade avançar.
Na realidade o que acontece é que, tal como a curiosidade, a criatividade vai-nos escapando pelos dedos ao longo dos anos. Enquanto envelhecemos, questionamos cada vez menos o porquê das coisas?A pressão social, a necessidade de agradar ou de encaixar, condicionam muitas vezes o que fazemos, o que dizemos e até o que pensamos.
O maior travão somos muitas vezes nós próprios. Quando dizemos: “Não tenho jeito para desenhar”, “Escrever é para escritores” ou “Ideias não são comigo”, estamos a colocar barreiras que nalguns casos nem sequer nasceram connosco, são heranças,conceitos que ouvimos e interiorizámos ano após ano e, em muitos casos, geração após geração.
No mundo empresarial, a confiança criativa é mais do que uma competência individual é uma vantagem competitiva. Organizações que incentivam esta mentalidade nos seus colaboradores estão mais preparadas para inovar, para se adaptar a mudanças e para responder a desafios complexos.Não se trata apenas de criar produtos ou serviços diferentes, mas de encontrar novas formas de pensar, decidir e liderar. É aqui que a criatividade deixa de ser um “departamento” e passa a ser uma cultura.
No empreendedorismo, esta confiança é o que separa quem fica preso à primeira barreira de quem encontra alternativas para seguir em frente. É a coragem de experimentar, falhar, aprender e tentar outra vez. No intraempreendedorismo, inovar dentro de uma empresa é o motor que permite aos colaboradores pensar como donos do negócio, encontrando soluções que transformam processos, equipas e resultados.
Por isso, a criatividade quando bem canalizada, não é só mais uma competência. É uma ferramenta de gestão estratégica que permite melhorar a experiência dos clientes, aumentar a eficiência, atrair e reter talentos, e criar ambientes de trabalho onde as pessoas sentem que podem contribuir com ideias sem medo do julgamento.
Eu acredito que investir em confiança criativa é investir no futuro de uma organização. É dar às pessoas liberdade e estrutura para pensar diferente, trabalhar em conjunto e transformar diferentes visões em realidade. Estas empresas não se tornam apenas mais inovadoras, tornam-se mais humanas, mais resilientes e mais capazes de crescer de forma sustentável.
Ter capacidade para criar soluções novas, e resolver dificuldades, aprende-se e treina-se. Ninguém nasce pronto para fazer coisa nenhuma. É um exercício de manter a mente aberta, curiosa, tolerante à incerteza e disposta a olhar para desafios sob múltiplas perspectivas, tal como um “olho de libélula” que vê a partir de diferentes ângulos. E é também saber valorizar a inteligência coletiva, porque juntos, vemos mais longe. No fim, a confiança criativa reside em acreditar que somos mesmo capazes e que podemos reunir o que precisamos para criar algo novo.
Mas é preciso começar. E como, por onde, e porquê começar, chega na próxima semana.
Pedro Graça
COO asnove




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