Empresas não são como famílias.
- João Francisco Lima

- 13 de jul.
- 3 min de leitura
Atualizado: 15 de jul.

Prende-se no propósito de qualquer atividade empreendedora, a geração de valor para a sociedade, e a entrega desse valor em troca de remuneração monetária. Esta, não só garante a subsistência das pessoas que fazem parte dessa organização, como idealmente a prosperidade financeira daqueles que assumem o risco e a responsabilidade sobre essa mesma estrutura.
Coincidência ou não, a tentativa de otimização operacional com vista ao sucesso de uma qualquer empresa, em nada se assemelha com as dinâmicas familiares de alguma casa que já tenha visitado.
Esta disparidade tem, felizmente, uma razão de ser: empresas não são famílias. Olhar para qualquer estrutura corporativa e esperar que haja pais, avós, primos e irmãos é não só imaturo, como a receita para o desastre.
Existe dentro de qualquer seio familiar uma dimensão incondícional que leva as pessoas a relacionarem-se com um grau de empatia, tolerância e disponibilidade incomparáveis a qualquer outro contexto social. Seja a consanguinidade ou o compromisso amoroso, ambos vinculam uma predisposição para o bem comum, invariavelmente em detrimento do indivíduo.
Tal realidade não acontece (nem pode ou deve) dentro das empresas. Uma relação laboral é nada mais que uma troca comercial entre o talento e a capacidade de entrega, e a estrutura através da qual esse mesmo gera valor acrescentado em quantidade suficiente para se auto-sustentar e contribuir para o funcionamento saudável dessa estrutura.
A fazer uma analogia, uma empresa não pode ser nada mais, ou nada melhor, que uma equipa desportiva. Todos compreendemos esta dinâmica, tenhamos ou não praticado um desporto coletivo: há n pessoas envolvidas, 1 objetivo comum, e responsabilidade individual e especializada para cada indivíduo, com o objetivo de promover o sucesso coletivo. Nunca ninguém se pergunta se os jogadores de uma equipa gostam uns dos outros. “Estão a fazer o seu trabalho”.
Pois é exatamente assim que qualquer trabalhador, seja contribuidor individual, gestor de equipas, diretor, ou até mesmo acionista deve olhar para a sua organização. Não tem que haver amizade, sacrifício, ou empatia. Uma empresa é uma estrutura abstrata, sem sentimentos, cuja existência depende da sua utilidade no mercado.
Qualquer pessoa se propõe a cumprir com as suas tarefas numa organização, apenas quando sabe que lhe será atribuída uma remuneração que o/a próprio considera justa. É a nossa forma de garantir a nossa sobrevivência, a satisfação de algumas necessidades secundárias e até os nossos desejos pessoais.
A expectativa de que alguém vai predispor-se a arriscar esta segurança, seja pelo bem da empresa como um todo, seja pelo bem da sua equipa em particular, não tem em conta a nossa dimensão egoísta, a que nada mais interessa senão promover a nossa segurança e bem estar.
Serve então esta visão como uma chamada de atenção à linha de raciocínio falaciosa por detrás desta mentalidade “familiar” das organizações que leva a assunções erróneas, tomadas de decisão imprudentes, e expectativas ingênuas por parte das várias pessoas que existem dentro destas estruturas.
Há no entanto, um sentimento que pode ser promovido e celebrado dentro das organizações que as pode levar a funcionar como uma verdadeira equipa de alta competição: o respeito.
Fomentar o respeito entre os indivíduos, celebrar publicamente as valências individuais, e fazer ver a todos a importância de cada contributo para o sucesso do coletivo, é uma premissa mais robusta e estável para construir as bases de qualquer ambiente corporativo.
Abrir espaço a que relações interpessoais se promovam naturalmente é benéfico para qualquer estrutura. Não deixar que a falta destas ou até possíveis desavenças sejam os precedentes para a previsão dos resultados de uma organização é fulcral para garantir saúde, prosperidade e longevidade para qualquer ambiente de trabalho.
João Francisco Lima
Empreendedor social & Opinion Leader




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